Musicalização para Bebês
Quando nascem, as crianças têm bases emocionais e cognitivas distintas para o desenvolvimento da personalidade. Cada criança desenvolve seu próprio modo de se comportar. Dessa maneira, forma modalidades coerentes de ação sobre as pessoas e as condições que a cercam.
O objetivo da musicalização para crianças de 0 a 02 anos é proporcionar experiências que estimulem este “ser no mundo” de modo que consigam construir uma imagem positiva de si mesmos; iniciem a construção da linguagem a partir da associação entre a entonação das suas primeiras vocalizações (gorjeios, lalações, balbucios, etc) e a música. Desta forma, podem ter o seu desenvolvimento emocional e cognitivo estruturado de forma saudável e organizado.
Segundo Kotulak (1997) o cérebro do bebê é faminto de novas experiências e estas o transformarão em redes neurais para o desenvolvimento da linguagem, do raciocínio lógico, do pensamento racional, para a busca de resolução de problemas e do entendimento dos valores morais. Essas redes neurais já estão sendo formadas antes mesmo de o bebê completar 01 ano de idade. São elas que permitem a associação de idéias e o desenvolvimento de pensamentos abstratos, que constituem a base da inteligência, imaginação e criatividade. Contudo, estas redes podem ser destruídas quando as experiências da infância são destituídas de estimulação mental ou carregadas de estresse.
Há muito tempo atrás, Freud já defendia a idéia de que uma pessoa continua a ser o que se tornou nos primeiros 05 ou 06 anos de vida. O passado não pode ser desconsiderado ou livremente remodelado. Estes primeiros anos de vida representam um período crítico para o ajustamento adulto.
Piaget distingue a fase de 0 a 02 anos como estágio sensório-motor – onde não há ainda capacidade de abstração – e a atividade intelectual é de natureza sensorial e motora. A criança percebe o ambiente e age sobre ele. É necessário que a criança receba estimulação visual, auditiva e tátil, que possa ter uma variedade de objetos para manipular e ainda tenha oportunidade para se locomover.
Segundo Piaget (1983) esse período se estende do nascimento ao aparecimento da linguagem, aproximadamente durante os dois primeiros anos de existência, subdividindo-se em seis estágios.
Existem algumas características dos esquemas ou padrões de comportamento observáveis nas crianças, ou seja, de tudo aquilo que podemos esperar de uma criança em um determinado ciclo, período ou nível etário, pois o ciclo da vida é regido pelas leis naturais. É óbvio que não há duas crianças da mesma idade que sejam exatamente iguais, mas as variações individuais tendem a algumas características do desenvolvimento humano relativamente estáveis. Não são padrões “absolutos”, mas como referência e com cautela, suficientes para dar uma linha de orientação, afinal cada criança é um indivíduo.
São muito importantes estes primeiros anos. Inicialmente porque são os primeiros e depois porque a influência nos anos seguintes é incalculável (Gessel, 2003).
De acordo com Gessel as percepções se desenvolvem com a experiência e com a crescente maturidade das células nervosas, sensórias, motrizes e conectivas.
Os componentes condutivo e sensorial do sistema auditivo estão prontos ao nascimento, no entanto, o componente neural irá se desenvolver a partir das experiências da criança, principalmente nos dois primeiros anos de vida.
Para maior entendimento a respeito do estágio sensório-motor (0 a 02 anos), apresentaremos, de forma didática, algumas características próprias de cada etapa:
Ao 1º mês – o bebê já não é tão passivo e mole como ao nascer. Apresenta sinais de satisfação durante o banho e reage ao sentir desconforto. Geralmente o bebê não gosta de ser vestido ou despido, pois acha tudo isso extremamente desconfortável. Fixa a claridade das janelas e das lâmpadas, bem como as cores vermelha e alaranjada. O bebê nesta fase dorme, em média, entre quinze e dezesseis horas por dia, ficando acordado única e exclusivamente para as mamadas, troca de fraldas e o banho. Os brinquedos barulhentos devem ser evitados nesta fase. O bebê sente-se atraído por objetos brilhantes, contudo, seu maior interesse se concentra em fisionomias humanas. Comanda o próprio pescoço, preferindo colocar a cabeça de lado. Chora (sua forma de comunicação) devido à dor, à fome ou ao desconforto. Fixa os olhos na mãe em resposta ao seu sorriso. Não consegue ainda reter os objetos nas mãos por muito tempo.
Para um bebê, entre 01 a 02 meses, pessoas são vistas como manchas e as cores como se fossem um grande quadro. Toda e qualquer modificação na rotina do bebê deve ser feita gradativamente, com muita precaução. Há uma modificação dos reflexos básicos da criança (sucção, torção, contração da pupila diante das luzes). Surge, no final do primeiro mês, o sorriso, dormindo ou olhando para sua mãe. Cabe ressaltar que tudo nas primeiras semanas de vida são reflexos e não atividades cognitivas.
Ao 2º mês – o bebê sorri para a face humana. O “sorriso social” só aparecerá após os três meses. Ele sorri como gargareja ou mexe o corpo. Solicita e gosta de brincadeiras, mas só agüenta por 20 minutos, mais do que isso pode levá-lo à exaustão. Procura manter sua cabeça constantemente para trás. Já pode ser percebido um esboço de satisfação, excitamento, alegria ou angústia em suas expressões fisionômicas. Pára de chorar quando é levado ao colo, movimenta as pernas como se estivesse pedalando, torce o corpo para mostrar alegria. Vira a cabeça ao escutar um ruído, acompanha com os olhos os objetos que se movem, presta atenção a uma voz em surdina, vocaliza alguns sons (ah...eh...uh...).
Com dois meses de idade, em condições normais, o bebê fixa seu olhar na luz colocada a meio metro de distância. Percebe a claridade e fica fascinado por cores vivas. Gesell afirma que a experiência de luz e cores brilhantes (principalmente alaranjado e vermelho) tem tanta importância para a inteligência do bebê quanto os alimentos para seu estômago. Aconselha, no caso de haver choro insistente, com lágrimas, a agitar diante dos olhos do bebê um tecido ou brinquedo alaranjado ou vermelho.
Ao 3º mês – nesta fase aparecem as lágrimas verdadeiras, pois as glândulas lacrimais começam a funcionar. A expressão do rosto do bebê pode revelar alegria, prazer, indecisão, ansiedade e dor. Aos três meses, os reflexos naturais automáticos começam a desaparecer e surgem os da vontade e da percepção, revelando controle cerebral. O bebê já faz muitas coisas: levanta bem a cabeça e a mantém para olhar melhor as coisas e as pessoas; segura objetos voluntariamente; sacode guizos; observa mãos e pés; murmura sons tais como: “A”, “E”, “O”; balbucia, chora menos; fica acordado por mais de uma hora; olha para o brinquedo que faz barulho. A voz da mãe é o som favorito, pois ele o associa ao calor humano, conforto e comida.
Ao 4º mês – o bebê demonstra preferência por algum tipo de brinquedo, ri quando estimulado, ficando excitado e com a respiração acelerada. Aquieta-se com música suave.
O desenvolvimento motor do bebê de 04 meses apresenta muitos progressos: mexe com os dedos, consegue segurar objetos pequenos, pegando-os e soltando-os; deitado, vira a cabeça em qualquer direção, gosta de ver suas mãos e pés; apoiado o bebê senta-se por alguns segundos, sem intenção, repete movimentos que toquem ou movimentem algo do ambiente.
Ao 5º mês – o bebê, quando virado de bruços, tende a rolar pela cama; apóia-se nas palmas das mãos procurando se levantar. A expressão do rosto do bebê já demonstra medo, desagrado e zanga. Ele faz careta por imitação, sorri e percebe a sua imagem no espelho. Levanta os braços para ser tirado do berço, sorri e vocaliza para fazer contato social. Reage quando alguém quer tirar o seu brinquedo e abaixa-se para ver o que cai. A audição já está desenvolvida, podendo virar a cabeça se alguém chamar por ele. E pára de chorar quando alguém conversa com ele. A visão está se aperfeiçoando, podendo diferenciar seus pais. Sua sensibilidade à presença de estranhos aumenta. Inicia-se a manipulação de suas emoções, procurando tirar partido de momentos de choro e alegria.
Ao 6º mês – a inteligência e o relacionamento social do bebê tornam-se evidentes no sexto mês. Balbuciar é sua grande ocupação, pode expressar prazer ou desagrado e vocalizar novos sons. O bebê desta idade já consegue sentar-se apoiado, vira-se para trás e para frente, o âmbito da visão se expande, usa as mãos para pegar algo, bater e apertar.
Reconhece as pessoas da família e mostra-se consciente da presença de estranhos. Repete movimentos que toquem ou movimentem algo do ambiente.
Ao 7º mês – Aos sete meses aparecem duas aquisições no desenvolvimento motor: pode se sentar sozinho e começa a engatinhar, no início se arrastando, em seguida engatinhando e por volta dos oito meses é que conseguirá fazê-lo razoavelmente. Quanto ao progresso da linguagem, a percepção clara do “M”, sobretudo quando chora é notada. Aprende a se divertir, emitindo os sons de algumas vogais e consoantes, formando sílabas (dá-dá-dá, má-má-má). O bebê nessa fase dorme em média quatorze horas por dia.
Entre o quinto e o sétimo mês surgem dois dentes (incisivos medianos inferiores).
Ao 8º mês – O bebê está em constante atividade. Embora já engatinhe para ir aonde quer, ele gasta grande parte do tempo procurando ficar de pé. Pouco a pouco tomará consciência dos objetos externos, diferenciando os objetos familiares (amados) dos objetos estranhos (ameaçadores). Nesta fase o bebê já transfere os brinquedos de mãos; puxa os próprios cabelos. Devido ao nível de ansiedade e desconfiança que geralmente apresenta nesta idade, ele só estica os braços para ir ao colo de pessoas conhecidas. Já consegue sentar-se sozinho e olhar ao seu redor.
Podem nascer mais dois dentes (incisivos medianos superiores).
Ao 9º mês – O que caracteriza o bebê de nove meses são as suas habilidades mentais e seu relacionamento com as pessoas. Aprecia a companhia de outras crianças e demonstra alegria em vê-las.
Quando suspenso, encosta os pés no chão e faz movimentos para andar. Demonstra habilidade em diferenciar tonalidades, imitando modificações de vozes que escuta ao seu redor, ao mesmo tempo em que também começa a imitar expressões faciais. Já segura a mamadeira levando-a a boca e aprende a fazer gracinhas. Dois dentes (incisivos laterais superiores) poderão surgir entre sete e dez meses.
Ao atingir nove meses, o bebê fica insatisfeito com a sua própria capacidade limitada para agir do modo que deseja. Então expressa essa insatisfação, de um modo generalizado, chorando ou esperneando. No entanto, à medida que sua compreensão se desenvolve, seu descontentamento é dirigido a qualquer objeto que perceba como fonte de aborrecimento: identifica o objeto e age (se não quer comer, fecha a boca ou vira o rosto; se não quer um brinquedo arremessa-o).
Ao 10º mês – a expressão fisionômica do bebê já revela diferentes emoções, se está aflito, triste, feliz, zangado, desconfortável. Chora ou grita não somente por sentir dor, receber auxílio ou se sentir desconfortável, mas também por outras razões: medo de estranhos, de lugares desconhecidos, de atividades não desejadas, pela sua separação da mãe ou de uma pessoa querida. Emite sons de vogais e sílabas combinadas ou não, faz barulho com os lábios e, às vezes, acha graça nos próprios sons que emitiu, especialmente se forem altos. Mais dois dentes (incisivos laterais inferiores) poderão surgir entre sete e dez meses.
Ao 11º mês - o bebê desta idade senta-se para apanhar um brinquedo e dá passinhos, se levado pela mão. Manifesta sinais de irritação, exprime alegria, nota outras crianças e se aproxima. Entende palavras repetidas e obedece a algumas ordens, imita o que ouve e exprime algumas palavras de acordo com o seu desejo. Já segura o copo para beber e puxa os adultos para brincar.
Ao 12º mês – ao completar o primeiro ano de vida, o bebê está pronto para realmente fazer seu papel no mundo, decidido a andar, explorar o ambiente, as coisas e as pessoas. Sua linguagem se aperfeiçoa, diz em média, oito palavras (repete), produz sons específicos da linguagem dos pais (quer gaguejar certas frases) e imita sons.
Geralmente o bebê desta fase mostra-se encabulado na presença de estranhos. Expressa emoções e reconhece a dos outros. Sua brincadeira preferida é atirar objetos no chão para que alguém os apanhe. Segundo alguns psicólogos à volta do brinquedo, após ser lançado diversas vezes, traz segurança ao bebê de que as coisas e as pessoas que vão, voltam, principalmente os pais.
Do 13º ao 18º mês – a criança desta etapa busca ação no meio para experiência.Tem prazer por novidades e a experiência e a assimilação são pontos importantes. A maioria das crianças desta idade, já está andando e consegue subir alguns degraus.
Gosta de abrir caixas, empilhar blocos, rabiscar com giz de cera e virar páginas de livros e revistas. A vocalização é individualizada, denominando objetos e reconhecendo os familiares pelo nome. Apresenta certo grau de altivez. Mostra entusiasmo pelos objetos de seu agrado e irrita-se quando procuram tirá-los.
A criança nesta etapa requer muito estímulo para o desenvolvimento da linguagem. Consegue falar algumas palavras, tentando organizar frases com até duas palavras. Tende a falar de si na terceira pessoa (nenê faz...), começa a nomear o que vê e sua palavra preferida é “não”. Anda sozinha, quase correndo, desajeitada devido à reduzida coordenação muscular. Sobe e desce de brinquedos, cadeiras e mesas. Está cheia de energia, está em toda parte mexendo em tudo o que vê. Há necessidade de supervisão de um adulto em tempo integral, pois está sujeita a tombos e acidentes (fechar os dedos em gavetas e armários, cair de cima de brinquedos e móveis, etc).
Presta atenção à música, marcha sacudindo o corpo todo tentando acompanhar a música. Imita traços retos na escrita, arma em torre três a cinco blocos e já é capaz de pedir ajuda quando se encontra em dificuldade.
Do 18º aos 24º mês – no início desta fase, a criança está pronta para iniciar o treino do vaso sanitário, então as fraldas serão substituídas por calcinhas ou cuecas, e ela aprenderá a controlar a urina durante o dia, necessitando das fraldas apenas à noite. Ao completar dois anos (24 meses) a criança já estará controlando as micções (xixi) e as evacuações (cocô).
O ciúme é o traço dominante nesta etapa, e a criança tem a sensação do que é “meu” e do que é “seu”, o sentido da propriedade vem antes da ação de repartir. Forma pequenas sentenças e formula frases, nomeia objetos familiares, dá nome a figuras e reconhece fotografias de pessoas da família. Gosta de objetos musicais e de livros coloridos, faz rabiscos redondos e usa bonecos para imitar pessoas que fazem parte da sua vida.
A curiosidade é despertada com presteza. Faz repetidos esforços para chegar a qualquer e a todos os lugares, entrando e saindo, subindo e descendo. Empenha-se com disposição para brincar com outras crianças, se estas estiverem prontas a contribuir com cooperação. O crescimento não é uma progressão pronta, para frente e para cima. É um caminho sinuoso.
Um princípio fundamental sobre o crescimento, em todas as suas fases, é que ele avança para o novo e regride para o velho. Como observou Abraham Maslow (1964) cada fase de crescimento exige, continuamente, que a criança deixe para trás o que lhe é familiar.
Crescer é abrir mão do velho. E a criança tem de abrir mão de uma coisa atrás da outra, numa rápida seqüência: o seio, a mamadeira, o dedo ou a chupeta e as fraldas; engatinhar, andar e ter o que quer no momento em que quer. Tem que equilibrar dependência e independência, submissão e domínio, guardar e partilhar. Assim como há interesse pela nova etapa, também a lembrança carinhosa do colo materno se faz sempre sentir.
O respeito ao padrão de crescimento da criança, e à sua necessidade de segurança, é prova concreta de amor.
Texto:
Ana Cristina Rissette Schreiber
Luciana Loureiro Micheli
O objetivo da musicalização para crianças de 0 a 02 anos é proporcionar experiências que estimulem este “ser no mundo” de modo que consigam construir uma imagem positiva de si mesmos; iniciem a construção da linguagem a partir da associação entre a entonação das suas primeiras vocalizações (gorjeios, lalações, balbucios, etc) e a música. Desta forma, podem ter o seu desenvolvimento emocional e cognitivo estruturado de forma saudável e organizado.
Segundo Kotulak (1997) o cérebro do bebê é faminto de novas experiências e estas o transformarão em redes neurais para o desenvolvimento da linguagem, do raciocínio lógico, do pensamento racional, para a busca de resolução de problemas e do entendimento dos valores morais. Essas redes neurais já estão sendo formadas antes mesmo de o bebê completar 01 ano de idade. São elas que permitem a associação de idéias e o desenvolvimento de pensamentos abstratos, que constituem a base da inteligência, imaginação e criatividade. Contudo, estas redes podem ser destruídas quando as experiências da infância são destituídas de estimulação mental ou carregadas de estresse.
Há muito tempo atrás, Freud já defendia a idéia de que uma pessoa continua a ser o que se tornou nos primeiros 05 ou 06 anos de vida. O passado não pode ser desconsiderado ou livremente remodelado. Estes primeiros anos de vida representam um período crítico para o ajustamento adulto.
Piaget distingue a fase de 0 a 02 anos como estágio sensório-motor – onde não há ainda capacidade de abstração – e a atividade intelectual é de natureza sensorial e motora. A criança percebe o ambiente e age sobre ele. É necessário que a criança receba estimulação visual, auditiva e tátil, que possa ter uma variedade de objetos para manipular e ainda tenha oportunidade para se locomover.
Segundo Piaget (1983) esse período se estende do nascimento ao aparecimento da linguagem, aproximadamente durante os dois primeiros anos de existência, subdividindo-se em seis estágios.
Existem algumas características dos esquemas ou padrões de comportamento observáveis nas crianças, ou seja, de tudo aquilo que podemos esperar de uma criança em um determinado ciclo, período ou nível etário, pois o ciclo da vida é regido pelas leis naturais. É óbvio que não há duas crianças da mesma idade que sejam exatamente iguais, mas as variações individuais tendem a algumas características do desenvolvimento humano relativamente estáveis. Não são padrões “absolutos”, mas como referência e com cautela, suficientes para dar uma linha de orientação, afinal cada criança é um indivíduo.
São muito importantes estes primeiros anos. Inicialmente porque são os primeiros e depois porque a influência nos anos seguintes é incalculável (Gessel, 2003).
De acordo com Gessel as percepções se desenvolvem com a experiência e com a crescente maturidade das células nervosas, sensórias, motrizes e conectivas.
Os componentes condutivo e sensorial do sistema auditivo estão prontos ao nascimento, no entanto, o componente neural irá se desenvolver a partir das experiências da criança, principalmente nos dois primeiros anos de vida.
Para maior entendimento a respeito do estágio sensório-motor (0 a 02 anos), apresentaremos, de forma didática, algumas características próprias de cada etapa:
Ao 1º mês – o bebê já não é tão passivo e mole como ao nascer. Apresenta sinais de satisfação durante o banho e reage ao sentir desconforto. Geralmente o bebê não gosta de ser vestido ou despido, pois acha tudo isso extremamente desconfortável. Fixa a claridade das janelas e das lâmpadas, bem como as cores vermelha e alaranjada. O bebê nesta fase dorme, em média, entre quinze e dezesseis horas por dia, ficando acordado única e exclusivamente para as mamadas, troca de fraldas e o banho. Os brinquedos barulhentos devem ser evitados nesta fase. O bebê sente-se atraído por objetos brilhantes, contudo, seu maior interesse se concentra em fisionomias humanas. Comanda o próprio pescoço, preferindo colocar a cabeça de lado. Chora (sua forma de comunicação) devido à dor, à fome ou ao desconforto. Fixa os olhos na mãe em resposta ao seu sorriso. Não consegue ainda reter os objetos nas mãos por muito tempo.
Para um bebê, entre 01 a 02 meses, pessoas são vistas como manchas e as cores como se fossem um grande quadro. Toda e qualquer modificação na rotina do bebê deve ser feita gradativamente, com muita precaução. Há uma modificação dos reflexos básicos da criança (sucção, torção, contração da pupila diante das luzes). Surge, no final do primeiro mês, o sorriso, dormindo ou olhando para sua mãe. Cabe ressaltar que tudo nas primeiras semanas de vida são reflexos e não atividades cognitivas.
Ao 2º mês – o bebê sorri para a face humana. O “sorriso social” só aparecerá após os três meses. Ele sorri como gargareja ou mexe o corpo. Solicita e gosta de brincadeiras, mas só agüenta por 20 minutos, mais do que isso pode levá-lo à exaustão. Procura manter sua cabeça constantemente para trás. Já pode ser percebido um esboço de satisfação, excitamento, alegria ou angústia em suas expressões fisionômicas. Pára de chorar quando é levado ao colo, movimenta as pernas como se estivesse pedalando, torce o corpo para mostrar alegria. Vira a cabeça ao escutar um ruído, acompanha com os olhos os objetos que se movem, presta atenção a uma voz em surdina, vocaliza alguns sons (ah...eh...uh...).
Com dois meses de idade, em condições normais, o bebê fixa seu olhar na luz colocada a meio metro de distância. Percebe a claridade e fica fascinado por cores vivas. Gesell afirma que a experiência de luz e cores brilhantes (principalmente alaranjado e vermelho) tem tanta importância para a inteligência do bebê quanto os alimentos para seu estômago. Aconselha, no caso de haver choro insistente, com lágrimas, a agitar diante dos olhos do bebê um tecido ou brinquedo alaranjado ou vermelho.
Ao 3º mês – nesta fase aparecem as lágrimas verdadeiras, pois as glândulas lacrimais começam a funcionar. A expressão do rosto do bebê pode revelar alegria, prazer, indecisão, ansiedade e dor. Aos três meses, os reflexos naturais automáticos começam a desaparecer e surgem os da vontade e da percepção, revelando controle cerebral. O bebê já faz muitas coisas: levanta bem a cabeça e a mantém para olhar melhor as coisas e as pessoas; segura objetos voluntariamente; sacode guizos; observa mãos e pés; murmura sons tais como: “A”, “E”, “O”; balbucia, chora menos; fica acordado por mais de uma hora; olha para o brinquedo que faz barulho. A voz da mãe é o som favorito, pois ele o associa ao calor humano, conforto e comida.
Ao 4º mês – o bebê demonstra preferência por algum tipo de brinquedo, ri quando estimulado, ficando excitado e com a respiração acelerada. Aquieta-se com música suave.
O desenvolvimento motor do bebê de 04 meses apresenta muitos progressos: mexe com os dedos, consegue segurar objetos pequenos, pegando-os e soltando-os; deitado, vira a cabeça em qualquer direção, gosta de ver suas mãos e pés; apoiado o bebê senta-se por alguns segundos, sem intenção, repete movimentos que toquem ou movimentem algo do ambiente.
Ao 5º mês – o bebê, quando virado de bruços, tende a rolar pela cama; apóia-se nas palmas das mãos procurando se levantar. A expressão do rosto do bebê já demonstra medo, desagrado e zanga. Ele faz careta por imitação, sorri e percebe a sua imagem no espelho. Levanta os braços para ser tirado do berço, sorri e vocaliza para fazer contato social. Reage quando alguém quer tirar o seu brinquedo e abaixa-se para ver o que cai. A audição já está desenvolvida, podendo virar a cabeça se alguém chamar por ele. E pára de chorar quando alguém conversa com ele. A visão está se aperfeiçoando, podendo diferenciar seus pais. Sua sensibilidade à presença de estranhos aumenta. Inicia-se a manipulação de suas emoções, procurando tirar partido de momentos de choro e alegria.
Ao 6º mês – a inteligência e o relacionamento social do bebê tornam-se evidentes no sexto mês. Balbuciar é sua grande ocupação, pode expressar prazer ou desagrado e vocalizar novos sons. O bebê desta idade já consegue sentar-se apoiado, vira-se para trás e para frente, o âmbito da visão se expande, usa as mãos para pegar algo, bater e apertar.
Reconhece as pessoas da família e mostra-se consciente da presença de estranhos. Repete movimentos que toquem ou movimentem algo do ambiente.
Ao 7º mês – Aos sete meses aparecem duas aquisições no desenvolvimento motor: pode se sentar sozinho e começa a engatinhar, no início se arrastando, em seguida engatinhando e por volta dos oito meses é que conseguirá fazê-lo razoavelmente. Quanto ao progresso da linguagem, a percepção clara do “M”, sobretudo quando chora é notada. Aprende a se divertir, emitindo os sons de algumas vogais e consoantes, formando sílabas (dá-dá-dá, má-má-má). O bebê nessa fase dorme em média quatorze horas por dia.
Entre o quinto e o sétimo mês surgem dois dentes (incisivos medianos inferiores).
Ao 8º mês – O bebê está em constante atividade. Embora já engatinhe para ir aonde quer, ele gasta grande parte do tempo procurando ficar de pé. Pouco a pouco tomará consciência dos objetos externos, diferenciando os objetos familiares (amados) dos objetos estranhos (ameaçadores). Nesta fase o bebê já transfere os brinquedos de mãos; puxa os próprios cabelos. Devido ao nível de ansiedade e desconfiança que geralmente apresenta nesta idade, ele só estica os braços para ir ao colo de pessoas conhecidas. Já consegue sentar-se sozinho e olhar ao seu redor.
Podem nascer mais dois dentes (incisivos medianos superiores).
Ao 9º mês – O que caracteriza o bebê de nove meses são as suas habilidades mentais e seu relacionamento com as pessoas. Aprecia a companhia de outras crianças e demonstra alegria em vê-las.
Quando suspenso, encosta os pés no chão e faz movimentos para andar. Demonstra habilidade em diferenciar tonalidades, imitando modificações de vozes que escuta ao seu redor, ao mesmo tempo em que também começa a imitar expressões faciais. Já segura a mamadeira levando-a a boca e aprende a fazer gracinhas. Dois dentes (incisivos laterais superiores) poderão surgir entre sete e dez meses.
Ao atingir nove meses, o bebê fica insatisfeito com a sua própria capacidade limitada para agir do modo que deseja. Então expressa essa insatisfação, de um modo generalizado, chorando ou esperneando. No entanto, à medida que sua compreensão se desenvolve, seu descontentamento é dirigido a qualquer objeto que perceba como fonte de aborrecimento: identifica o objeto e age (se não quer comer, fecha a boca ou vira o rosto; se não quer um brinquedo arremessa-o).
Ao 10º mês – a expressão fisionômica do bebê já revela diferentes emoções, se está aflito, triste, feliz, zangado, desconfortável. Chora ou grita não somente por sentir dor, receber auxílio ou se sentir desconfortável, mas também por outras razões: medo de estranhos, de lugares desconhecidos, de atividades não desejadas, pela sua separação da mãe ou de uma pessoa querida. Emite sons de vogais e sílabas combinadas ou não, faz barulho com os lábios e, às vezes, acha graça nos próprios sons que emitiu, especialmente se forem altos. Mais dois dentes (incisivos laterais inferiores) poderão surgir entre sete e dez meses.
Ao 11º mês - o bebê desta idade senta-se para apanhar um brinquedo e dá passinhos, se levado pela mão. Manifesta sinais de irritação, exprime alegria, nota outras crianças e se aproxima. Entende palavras repetidas e obedece a algumas ordens, imita o que ouve e exprime algumas palavras de acordo com o seu desejo. Já segura o copo para beber e puxa os adultos para brincar.
Ao 12º mês – ao completar o primeiro ano de vida, o bebê está pronto para realmente fazer seu papel no mundo, decidido a andar, explorar o ambiente, as coisas e as pessoas. Sua linguagem se aperfeiçoa, diz em média, oito palavras (repete), produz sons específicos da linguagem dos pais (quer gaguejar certas frases) e imita sons.
Geralmente o bebê desta fase mostra-se encabulado na presença de estranhos. Expressa emoções e reconhece a dos outros. Sua brincadeira preferida é atirar objetos no chão para que alguém os apanhe. Segundo alguns psicólogos à volta do brinquedo, após ser lançado diversas vezes, traz segurança ao bebê de que as coisas e as pessoas que vão, voltam, principalmente os pais.
Do 13º ao 18º mês – a criança desta etapa busca ação no meio para experiência.Tem prazer por novidades e a experiência e a assimilação são pontos importantes. A maioria das crianças desta idade, já está andando e consegue subir alguns degraus.
Gosta de abrir caixas, empilhar blocos, rabiscar com giz de cera e virar páginas de livros e revistas. A vocalização é individualizada, denominando objetos e reconhecendo os familiares pelo nome. Apresenta certo grau de altivez. Mostra entusiasmo pelos objetos de seu agrado e irrita-se quando procuram tirá-los.
A criança nesta etapa requer muito estímulo para o desenvolvimento da linguagem. Consegue falar algumas palavras, tentando organizar frases com até duas palavras. Tende a falar de si na terceira pessoa (nenê faz...), começa a nomear o que vê e sua palavra preferida é “não”. Anda sozinha, quase correndo, desajeitada devido à reduzida coordenação muscular. Sobe e desce de brinquedos, cadeiras e mesas. Está cheia de energia, está em toda parte mexendo em tudo o que vê. Há necessidade de supervisão de um adulto em tempo integral, pois está sujeita a tombos e acidentes (fechar os dedos em gavetas e armários, cair de cima de brinquedos e móveis, etc).
Presta atenção à música, marcha sacudindo o corpo todo tentando acompanhar a música. Imita traços retos na escrita, arma em torre três a cinco blocos e já é capaz de pedir ajuda quando se encontra em dificuldade.
Do 18º aos 24º mês – no início desta fase, a criança está pronta para iniciar o treino do vaso sanitário, então as fraldas serão substituídas por calcinhas ou cuecas, e ela aprenderá a controlar a urina durante o dia, necessitando das fraldas apenas à noite. Ao completar dois anos (24 meses) a criança já estará controlando as micções (xixi) e as evacuações (cocô).
O ciúme é o traço dominante nesta etapa, e a criança tem a sensação do que é “meu” e do que é “seu”, o sentido da propriedade vem antes da ação de repartir. Forma pequenas sentenças e formula frases, nomeia objetos familiares, dá nome a figuras e reconhece fotografias de pessoas da família. Gosta de objetos musicais e de livros coloridos, faz rabiscos redondos e usa bonecos para imitar pessoas que fazem parte da sua vida.
A curiosidade é despertada com presteza. Faz repetidos esforços para chegar a qualquer e a todos os lugares, entrando e saindo, subindo e descendo. Empenha-se com disposição para brincar com outras crianças, se estas estiverem prontas a contribuir com cooperação. O crescimento não é uma progressão pronta, para frente e para cima. É um caminho sinuoso.
Um princípio fundamental sobre o crescimento, em todas as suas fases, é que ele avança para o novo e regride para o velho. Como observou Abraham Maslow (1964) cada fase de crescimento exige, continuamente, que a criança deixe para trás o que lhe é familiar.
Crescer é abrir mão do velho. E a criança tem de abrir mão de uma coisa atrás da outra, numa rápida seqüência: o seio, a mamadeira, o dedo ou a chupeta e as fraldas; engatinhar, andar e ter o que quer no momento em que quer. Tem que equilibrar dependência e independência, submissão e domínio, guardar e partilhar. Assim como há interesse pela nova etapa, também a lembrança carinhosa do colo materno se faz sempre sentir.
O respeito ao padrão de crescimento da criança, e à sua necessidade de segurança, é prova concreta de amor.
Texto:
Ana Cristina Rissette Schreiber
Luciana Loureiro Micheli